domingo, 27 de março de 2011

Rios de História – Joselitos

Tudo começoucom uma ligação. Impressionante como sempre se pergunta a mesma coisa: “está livre amanhã?” E novamente lá estava eu entrando em uma furada sem saber. Mas é tudo aprendizagem, só tenho a agradecer. Ainda tenho muito a desenvolver e todas essas bombas são ótimas pra isso. Vamos lá, começa o dia...

Dias ruins
Acordei atrasado (não muito, mas o suficiente pra me fazer esquecer de tomar o café da manhã). Parti. Cheguei lá no hotel onde eu deveria encontrar os passageiros e seguir rumo ao alto do Corcovado. As vans não tinham chego. Recebi a ‘ordem de serviço’ e um objeto o qual tenho profunda aversão: um microfone. Seria meu primeiro trabalho usando um em área pública, mais especificamente nos pés do Cristo, com inúmeros turistas e, principalmente, outros guias me olhando. Se você tivesse visto minha primeira performance com um microfone, você entenderiam o pavor que tenho disso.

Microfone
Uma segunda feira nublada, aula da Mariza: Técnica de microfone. E chegou minha vez. Eu, Tauan, ser mais tímido do planeta (até então), microfone, turma olhando, microfone, eu de frente pro quadro pois simula um city tour (temos que olhar o caminho, nãos os passageiros), microfone, murmurinhos. Tauan tremendo, gaguejando, vermelho, vermelho? Roxo! Tremendo, suando frio. Conseguiu imaginar? Pois é. Trauma. Mas vou seguir com a história.

Joselitos
Hora de conhecer o grupo. “Tauan, esta aqui é a Joselita, ela que contratou pra levar a família pra conhecer o Cristo.” Lembrando do Pânico na TV a vontade de rir foi quase incontrolável, mas consegui. A pequena família da Jose tinha, contados, 42 membros. Dispostos em dois hotéis. Eu não sabia, mas foi meu primeiro pick up, sem nem mesmo saber o que era isso. Bom, a van estava demorando. Rumei ao segundo hotel para adiantar as coisas. Priscila instruiu-os para que me esperassem depois da roleta, pra que o grupo não se dispersasse e se perdesse. Você ouviu a Priscila falando?

Surdos
Parece que eles também não. Chego eu lá com o grupo que estava em minha van e cadê todo mundo? SUMIRAM! Como eu acharia aquele monte de gente? Rá! Fácil. Uma família só, com 42, é só deixar que se encontram. Plano perfeito, se encontraram. Mas o tiro saiu pela culatra. Depois que se encontraram falavam tanto, mas tanto, que nem o microfone foi capaz de chamar a atenção deles. Desisti. Bom, agora só não posso deixar ninguém aqui, pensei. Vou pra roleta e se sair alguém eu vejo.

Grande número
Esse grupo tinha um horário marcado, 12:30 tinham que estar no hotel pois depois de visitar o cristo iriam a um casamento onde todos os padrinhos estavam comigo. -Não posso atrasar, não posso atrasar, pensei. Se considerasse 1h do alto até o hotel, eles teriam, hum..., 20 minutos pra ver o Redentor. Lá fui eu marcar o horário... “ATENÇÃO, TODO MUNDO, PRECISO QUE VOCÊS ESTEJAM LÁ EM BAIXO (NAS ROETAS) ÀS 11 EM PONTO!“. Recebi A resposta: “Meu filho, você já viu o tamanho dessa família? Em vinte minutos não abraço nem meus irmãos, quem dirá os primos!”. Tive que rir. Situação explicada, tirei algumas fotos da família reunida e, felizmente, alguém veio me perguntar onde era o que. Finalmente consegui atenção...expliquei tudo que se explica aos turistas e quando terminei estávamos em cima da hora. Fomos descer. 34, 35, 36. Ué, cadê? Estão faltando seis. OMG, como eu acharia 6 agora? Seis que eu nem sabia quem eram, roupas que vestiam ou se já tinham descido enquanto eu estava com 36 lá em cima. Olhei bem pra estátua quase que implorando e desci. Na pior das hipóteses, se não estivessem lá eu subiria de novo.

Coca Cola
Cheguei lá eles não estavam onde normalmente se fica...mas eu não podia perder mais ninguém. Tratei de encaminhar todos para as vans e, quando noto, os indivíduos estavam lá, na van, no estacionamento! Uhuhuhu, era meu dia de sorte! Ou não. Todos nas vans e eles ficaram na van que eu estaria. Duas pessoas pediram pra ir na frente, cedi o lugar pra eles apreciarem a vista. Sentei do lado de uma “mocinha” que não estava tendo um dia bom. Isso fez da minha viagem um pesadelo. A senhorinha tomara coca cola pra rebater o enjoo, o que aumentou significativamente sua concentração interna de gás. Como vocês sabem, quando se coloca ar demais numa bola ela explode, mas a senhorinha tinha válvulas de escape. Me recuso a explicar em mais detalhes. Demorou de Santa Teresa até Copacabana que ela se esvaziasse.

Problemas
Chegamos em Copa e alguém falou que viu o preço do cristo e que era 16 reais e que nós havíamos cobrado 36. De fato nós cobramos e tinha um porque:
- são 16 do ingresso e mais 20 da van, expliquei.
- Mas você não falou que a van era 10?”
- Não, a van só seria 10 se nós subíssemos de bonde.
-E porque não subimos de bonde? Seria mais barato, você está querendo nos enrolar! Ta achando que é malando e que vai nos enganar, carioca blablablablablablablabla
Calmamente expliquei novamente: - Se você pegar a van aqui e for até o ponto do bonde, custa 10 reais da van mais 36 que é o valor do bonde, somando 46. Se no ponto do bonde você quiser pegar uma van custa 20 da van mais 16 do ingresso, assim, a soma é 46. Entendeu?
- Entendi. MAS ESSE PREÇO É UM ABSURDO, QUANDO VIM AQUI SUBI DE TAXI E ELE COBROU 40 REAIS PRA ME LEVAR ATÉ O ALTO DO CRISTO! NEM INGRESSO PAGUEI!
- Minha vontade foi de chorar. Há quase 10 anos já não é mais possível subir sem ingresso. Nisso o motorista me ajudando a explicar, pois 42 nordestinos fizeram uma rodinha e eu via meu fim próximo. Nesse ponto liguei pra Priscila e pedi pra que ela explicasse pra Joselita, chefe da família, o acontecimento. Tudo entendido. Todos subiram a seus quartos e Jose teria que me pagar pelo dia.
“Como assim 150 por um dia? Eu achei que era 150 o pacote!” Minha vontade foi, novamente, de chorar. Liga pra Priscila de novo. Tauan, desiste. “Esquenta cabeça mais não e vai embora!” Não dei nem tchau. Sumi dali o mais rápido que pude, mas não sem antes instruir o motorista a fazer o mesmo. Como terminou, de fato, essa história? Eu ainda não sei, mas, sinceramente? É melhor nem querer saber.

Aprendizado
Mas vendo hoje, foi ótimo. Dou boas risadas desse dia. Foi um marco e aprendi muito com essa experiência. Como já falei, tudo é aprendizado.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Rios de História – Anjos

Não me lembro se era uma segunda ou terça, mas Priscila perguntou se eu estava interessado em levar um grupo com ela. Bom, eu já tinha terminado o curso, protocolo em mãos e muita vontade. As palavras “com ela” ressoaram em minha cabeça e falei: “okay!” Pensando: ela estará lá, então sem problemas. “Aceito! “

O desafio era levar um grupo para a Fiocruz, Fundação Oswaldo Cruz, então mãos a obra. Se jogar no google e estudar estudar estudar... não podia fazer feio. Estuda mais um pouco, lê isso e aquilo... Caio nas lembranças. Todas as vacinas que tomei foram naquele espaço, em frente aquele castelo. Seria legal começar por um lugar que eu realmente conhecia. Estava pronto, definitivamente.

Tudo pronto, saio de casa e vou ao ponto marcado. Indo em direção a agencia pra pegar o serviço descubro que serão dois ônibus. Priscila não estará comigo de fato. Insegurança volta a atacar. Dor de barriga, sede, vontade de sair correndo. Mas já era tarde, estava na agencia que propôs o serviço.

Eu repassando mentalmente tudo que estudara na noite anterior e tentando transformar minhas falas em um vocabulário mais simples. Mas já era hora de partir. “Aqui está, leve as jujubas e entregue aos passageiros no final da viagem.” Foi a ordem. Peguei as jujubas como se entrega-las fosse o objetivo-mor da missão. Entrei no ônibus, cumprimentei motorista, testei microfone, verifiquei banheiro, etc. Tudo perfeito.

Hora de ir buscar os passageiros. Tensão. Alguns minutos depois estavam todos a bordo. Hora de se apresentar e começar a falar do destino.
Primeiro vencer o nervosismo: eram 36 passageiros ao todo, nunca tivera um “público” tão grande antes. Respirei fundo, liguei o microfone e falei: “Boa tarde!” Sem resposta. Tentei novamente, insisti, nada. O microfone resolveu pifar exatamente na hora do show. Oh, não contei. Meus passageiros eram anjinhos entre 8 e 10 anos e, pra me ajudar, 4 professoras. Agora eu estava tranquilo. Mas sem microfone. Passei algumas informações básicas pra quem conseguia me ouvir e assim foi. Enfim, chegamos na fundação.

Nós fomos visitar o museu da vida. Especificamente o “Parque da ciência” e a “Biodescoberta”. Saiu tudo muito bem, mais tranquilo que eu imaginava. Exceto por um menininho que estava andando meio estranho. Ei,como é seu nome? - Perguntei. -João Pedro, respondeu. Perguntei se estava tudo bem e o menino ficou vermelho: está sim, tudo bem. Eu tive um insight estilo Dr House: “quer ir no banheiro?” O menino não se controlou: “SIIIIIMMMMMM!!!” Sabia! agora, onde é o banheiro mesmo? Perguntei, informaram. Fui encaminhar o menino a salvação. “TIO, ANDA MAIS RÁPIDO, NÃO VOU AGUENTAR!” Eu não sabia se ficava com pena, se ria ou o que, o fato é que saímos correndo. “Tio que que eu faço, ta saindo!” “Vai atrás da árvore!” E assim foi. Por que eu contei isso? Simplesmente porque não dá pra esquecer a cara de satisfação e alegria daquela criança. Ali eu pensei: é isso que eu quero fazer! Mesmo que não dê tempo levar ao banheiro, ou ao barco ou a qualquer lugar, quero achar um jeito de fazer as pessoas se sentirem bem mesmo nas adversidades.

Voltamos ao ônibus onde as crianças puderam lanchar enquanto voltavam pra escola pra encontrar seus pais. No caminho, lanche, criança, fandangos, criança implicante...guerra de biscoito. Nem eu ou as tias conseguiram sair ilesos, muito menos controlar. O jeito foi entrar na brincadeira. Sim, eu estava em casa. Era isso que eu queria: ver meus passageiros felizes, mesmo q isso me custasse limpar a bagunça depois. Assim foi meu primeiro dia como guia de turismo.

E as jujubas? Eu estava tão eufórico, que esqueci delas. Mas acredito que não se importaram muito, afinal, todos saíram felizes.

Bom, é isso. Essa é a parte um do segmento “Rios de História”, agencia que pertence a duplinha dinâmica Priscila e Raul. Quero aproveitar e agradecer pela oportunidade, brigadão Pri. Sem esses empurrões acho que não teria funcionado.

Não perca o próximo episódio: “Joselitos”. Também na saga da Rios. Obrigado a todos. Boas leituras.