segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A viagem de João - Odisséia Parte 5 (Final)

Liga pra cá, liga pra lá, a agência conseguiu falar com eles. 17:22 chegaram as criaturas. Partimos para o bus para levar aqueles argentinos das malas na pousada. O caminho foi tranquilo, a rua uma ladeira e na hora de descarregar fingi que não era comigo e nem do bus desci. O caminho de volta foi super de boa. Sentei lá no final do ônibus do lado de uma senhorita gaúcha soltava gases periodicamente. Mas era melhor q ir ao lado do dito cujo. Pegamos os passageiros que ficaram em Arraial do Cabo e partimos. Estava tudo indo tão bem que eu nem acreditava. Até que, chegando no Rio, Roberto fechou a noite com chave de ouro (pra não falar que ele quase me matou de ódio). -João, chega aqui assim que puder? Eu já nem sabia mais meu nome, acabei que fui.
Imagine uma música romântica... é, não é sacanagem, estava tocando musica romântica no bus. Eu já fiquei com vontade de rir. Roberto começou seu discurso:
“Eu vi o quanto você trabalhou hoje, me ensinou muito e, principalmente, me ajudou muito. Sou uma pessoa que reconhece o trabalho dos outros e por isso vou te recompensar.”
Juro que apareceram dois cifrões, um em cada olho meu. Roberto me deu um papel amassado e o bus com a luz apagada não sabia exatamente o que era, juro. Sabia que era grana, mas quanto será que eu ganhei pelo árduo dia de trabalho? Ele havia prometido pagar meus gastos, então nada mais justo.
Quando passamos perto de um posto da polícia e que o lado de fora estava iluminado eu vi. Na hora não acreditei, esperei a luz novamente. Mas já estava começando a ficar tenso, muito tenso. Finalmente chegamos na ponte costa e silva, iluminada. Ali pude ver e certificar-me que não havia visto errado. O meu árduo trabalho, stress e principalmente o uso do meu telefone valiam dez reais. Eu tive uma crise interna de riso tão intensa que cheguei a ficar sem ar.
O Sr Roberto me recompensara com uma nota valendo incríveis dez reais. Não vamos entrar no mérito se eu merecia mais ou não, mas “recompensar” alguém por um dia inteiro com 10 mangos é triste. Ali acabou meu dia. Não queria mais brincar daquele jogo. Deixamos quase todos os turistas na porta, exceto um que, para evitar engarrafamento na Toneleiros (copa) perguntamos se ele se importava de caminhar uma quadra. O elemento deu um ataque. Fiquei incrédulo. Mas foi. Pronto, entregamos todo mundo. Peguei o metrô e fui pro meu bairro, onde estava acontecendo um ensaio da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Usei sabiamente meus dez reais: consegui negociar e emburaquei 7 latinhas.

A noite seria tranquila, enfim.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A viagem de João - Odisséia Parte 4

Vamos lá! Todos a bordo? Capitão, podemos partir! Assim começou o passeio do barco Bardot. Hora de, assim como as aeromoças fazem, os marinheiros simularem como usar os equipamentos de segurança. Ali conheci Rômulo, um marinheirinho muito engraçado que na hora de simular vestir o colete salva-vidas até a reza ele fazia. Hora de relaxar. Já sem tênis e bem a vontade fui observando a paisagem. Praia dos ossos, do canto, gruta dos amores, praia dos amores, navio da concorrência, tudo muito bom e belo. Até que cola do meu lado uma criatura vinda do além: “Eu também trabalho na xx (agência)! Você é novo lá? É, nunca te vi. Primeira vez em Búzios?” depois de me interrogar e eu responder com acenos de cabeça ela começou com as histórias. “Aquela ali é a casa de veraneio do Roberto Carlos, mas é segredo, pois ele gosta de privacidade. Aquela pedra é onde a Brigitte Bardot fazia top less.” Eu comecei a viajar nos meus pensamentos, pra variar. Aí fiquei me perguntando: por quê as pessoas quando não tem o que falar inventam coisas absurdas? Não é tão mais fácil ficar calado? Daí pra mudar um pouco o rumo fui perguntando coisas que poderiam tornar o papo interessante. Dentre minhas perguntas ela deixou vazar uma informação bem útil pra quem quer viajar e está quebrado: dia 22 de março sai um cruzeiro, da CVC, do Rio de Janeiro com destino a recife por apenas mil reais. Venhamos e convenhamos, são 8 noites e mais passagem de volta. Pra quem quiser, fica a dica. Mas fora isso, nada de interessante pra vocês. Conversa acabou e fui ajudar a tripulação. Içar os banhistas pra dentro do barco, ajudar a colocar e retirar escadas, recolher “macarrões”, zuar. Podem até pensar que é chato, mas é bem engraçado. Principalmente conversar em espanhol sem saber falar o dos bolivianos. Me divirti. Mas como isso começou é uma história a parte.
Terminado o passeio fomos almoçar. O churrasqueiro estava de mal humor, só faltava enfiar o espeto nos turistas que nada entendiam em português. Os garçons, felizmente, eram bem simpáticos e atenciosos e por fim deu tudo certo. Como eu já estava no comando mesmo, marquei com o grupo de nos encontrarmos 16:30. Repeti 4 vezes e apontei mais umas vinte o local de encontro. Ótimo, eu ia poder me esconder por 40 minutos. Feito, andei pela Rua das Pedras e na Orla Bardot esbarrando algumas vezes com meus turistas. Às 16:30 em ponto estava eu com o grupo no local marcado. Roberto inclusive, mas faltavam dois. Dois ninjas renegados ou, pior, turistas perdidos. Roberto, dá uma olhada na orla pois os vi lá. Lá foi ele.. voltou 16:55. Nada. Os turistas tomaram chá de sumiço. E quem começava a precisar de chá era eu, de camomila.

Pode rir, desgraça alheia pouca é bobagem
kpskpskpskpskpskpskpskpsks

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A viagem de João - Odisséia Parte 3

Depois de algumas horas indo de hotel em hotel buscar os passageiros, estávamos finalmente com todos a bordo e pronto pra partir para Búzios. Ufa! Agora seria fácil. Fui a procurar um lugar para me sentar e pânico total! Todos os assentos estavam ocupados. Bom, eu já estava ali, então vamos embora. Segui metade do caminho sentado no chão e me escondend quando passávamos pelos postos policiais. Caminho esse Roberto só fez repetir as frases: “o que será que eles farão com as malas?” falando dos argentinos, que descobrimos q ficariam em Búzios, “onde será essa pousada deles?”, “será q estão gostando da viagem?”.. Eu só fazia pedir pra chegar logo. Cada vez que tocava o celular do motorista eu sentia doer o coração. E parecia que não chegaríamos nunca. Mas chegamos a primeira parada para o café. Oba! Hora de relaxar!
Depois de comer um triple egg cheese salada bacon (o nome de um sanduíche de 100 gramas) e um todinho, fui pro bus. Chegando lá, stress. Um grupo de argentinos fora esquecido no Graal e simplesmente não sabiam o que fazer. Mas meldelz, o que EU poderia fazer? OK, já tava na chuva, vamos nos molhar. Descobri a companhia do bus e passei os dados pro pessoal do Graal que (incrivelmente) achou o bus deles.
Na minha parada descobri que teria que deixar alguns passageiros em Arraial do Cabo, mas por causa do seguro, o ônibus não podia sair do caminho traçado. E agora, o que fazer? Fácil..liga pra agência! Lá vai eu gastar mais telefone... mas ok, problema resolvido. Pra mim, neh. Roberto (eu juro que não esquecerei essa figura) só fazia repetir dali em diante: “será que ele vai mesmo encontrar-nos lá?” “será que é longe?”. Saí do meu corpo, fui fazer um tour astral pelos meus pensamentos pra não ter q ouvir as mesmas coisas mais vezes. Depois de um tempo chegamos ao ponto de encontro, passamos os passageiros pra van que os levaria pra Arraial e seguimos pra Búzios. Ao som de Zeca Pagodinho entramos na cidade. Hora de registrar o bus. Como tudo é cronometrado, estávamos atrasados. Só o que fatava era nós chegarmos depois da tolerância e perdermos o barco. Roberto tentando bater papo com os funcionários do posto e eu quase o arrastando. Foi hilário. Chegamos no centro, descemos do ônibus e nos encaminhamos para o píer. Enquanto Roberto pagava as contas eu encaminhava os pax para o barco. A melhor parte do meu dia.

=)

A viagem de João - Odisséia Parte 2

Desci do ônibus e fui literalmente correndo em direção ao hotel. “Senhor José! Búzios! Devido ao atraso José já nos esperava no hall do hotel. Número de passageiros conferido, encaminhei-os ao ônibus e partimos para o segundo hotel. Roberto abismado “ Onde eles estavam?”. Fingi que não era comigo e pedi ao motorista que seguisse. Aliás, não lhes apresentei nosso motorista. Conheçam Seu Madruga. Estatura normal (175~) cabelo preto e branco, uniforme da companhia e “NOSSA! ACHO QUE ATROPELAMOS UM CACHORRO!” falei. Madruga riu e atendeu seu telefone. No momento, o cachorro que antes uivava de dor calou-se. Demorou alguns segundos até que a ficha caísse. Sim, o toque do telefone do Sr Madruga era o som de um cão atropelado, som esse gravado pelo próprio autor do atropelamento, acredito eu. Pronto, meu dia não poderia ser pior... não podia?
Chegamos no segundo hotel. Rio Othon, 6 passageiros argentinos. Cheguei e todos me aguardavam com tanto entusiasmo q baba saía de suas bocas. “Bom dia!!! Eu sou o guia Tauan e estou aqui para leva-los pra Búzios.” Ainda forcei: “Todos animados?”. Tentativa em vão. Não, pior. Cada um levanta e pega sua mala. Pra vocês pode ser normal carregar uma mala já que estão indo pra búzios, mas o fato é que nós fazemos DIA EM BÚZIOS, sacou? Não entendi a das malas de primeira, mas antes de ter tempo pra pensar o doutorzinho me perguntou se poderia carregar sua mala pois estava com a mão doendo. Eu estava pronto pra gritar “NÃO!” quando surge atrás de mim a figura de Roberto. Correndo pra me alcançar e, sem fôlego, falar “João, ajuda ele que eu ajudo as meninas”. Confesso que fiquei estático. Bem, estávamos atrasados e quanto antes terminasse, antes eu me livrava do ser-que-não-deve-ser-nomeado. Após algumas tentativas falhas consegui desemperrar o trinco do porta malas do bus e, com muito, muito esforço, coloquei as seis malas lá.
Os passageiros entraram no ônibus, Roberto em seguida e por último eu.
“Ainda bem que você é forte, neh, João? Eu não aguentava aquelas malas.” Nesse momento eu apenas fechei os olhos e perguntei por que. Por que, Senhor, que que eu fiz pra merecer?
Não poderia piorar. Seguimos viagem. (...) Quem disse que não poderia?
Continua.

A viagem de João - Odisséia Parte 1

- Tem saída pra Búzios amanhã? Quero correr linha.
-Tem sim. E você pode ir. Você irá com o Guia Roberto.
Pronto. Ali foi o ponto de partida pra minha viagem rumo à loucura. Para quem não me conhece, me chamo Tauan e estou trabalhando como Guia de Turismo e, nesse meio, correr linha significa fazer estágio, um treinamento. O objetivo desse trabalho é conhecer o roteiro,como funcionam as coisas no destino. Destino meu que já estava traçado.
Búzios. Búzios. Búzios. Búzios... Um destino interessante. Comecei a ler um pouco pra não chegar lá sem saber nada. Brigitte Bardot. Emancipação em 85. Rua das Pedras. Mapas. Ok, estava pronto pra encarar o “desconhecido”.
Como combinado, às 6:50 da manhã eu estava lá no Marina Palace, ponto de encontro. Peguei as informações sobre onde pegar os passageiros e os horários e já comecei a me desesperar. O primeiro passageiro deveria ser pego 7:20. Era 7:10 quando Roberto chegou. Baixa estatura, óculos dourados, cabeça chata com algumas falhas capilares, camisa polo branco com listras azuis, bermuda cáqui cheia de bolsos (aliás, já notaram como Guias adoram bolsos? Nem vou citar aqueles que usam colotes que mais parecem de pescador), e parei de reparar nas primeiras palavras de Roberto...
-Bom dia! Eu me atrasei um pouquinho mas está tudo bem. Vai dar tudo certo, não vai?
TREMI. Nem ele sabia. Concordei e fomos analisar aonde ir, uma vez que precisávamos decidir quem nós buscaríamos e quem Val (auxiliar) iria buscar com sua van. Enquanto esperávamos descobrimos que alguns passageiros já haviam sido pegos, por Isidro (outro motorista auxiliar). Tudo bem. Tudo bem? Já era 7:22 e não havíamos nos movidos.
“Vocês ainda estão parados ? Como assim ? Vai logo buscar os passageiros!” Gritou a chefe do outro lado da linha. Enfim, pra minha alegria (ou desgraça), partimos. No segundo segundo dentro do ônibus eu tive o primeiro contato com o nome o qual intitula a saga.
-João, você já fez isso antes? Eu trabalho como guia há pouco tempo também, sabe?
-Meu nome é Tauan. Prazer.
-Ahh, desculpe. É que eu já trabalhei com um João.
Chegamos no primeiro hotel. Não me lembro o nome ou numero de passageiros. Mas lembro de Roberto acenando de dentro do bus para pessoas do lado de fora do ônibus. Achei q fossem parentes, conhecidos ou algo do gênero, mas não. Ele queria chamar os desconhecidos. Nessa hora eu parei, incrédulo. Não tive a oportunidade de ver minha face, mas acredito que estava pálido, com lábios roxos e olhos saltando das órbitas como se tivesse acabado de ver um fantasma. Me recuperei rapidamente pois tempo estava passando e já estávamos atrasados. Ali tive que começar o trabalho, ou não daria certo. Não sou melhor que ninguém, mas nesse caso eu estava mais preparado.